O setor de automóveis registrou queda no primeiro semestre do ano de 7,33% nas vendas, no comparativo com o mesmo período do ano passado.
Contudo, no Rio Grande do Norte, essa redução foi ainda maior, ficando na casa dos 8,32%.
Embora o Nordeste também tenha sentido a queda no período, o estado acabou demonstrando que sentiu mais do que os vizinhos.
A região registrou recuo de 4%. E com a Copa, o mês de junho não foi bom, com queda de 13,7% no RN, no comparativo com mesmo mês do ano passado.
O
presidente da Fenabrave/RN faz um balanço do mercado de veículos,
apontando queda nas vendas, alta inadimplência e crédito restrito
Em
entrevista à TRIBUNA DO NORTE, o presidente da Federação Nacional da
Distribuição de Veículos Automotores no Rio Grande do Norte
(Fenabrave/RN), Rodrigo Cândido, comenta a queda e avalia o que esperar
com a manutenção, em julho, da redução da alíquota do IPI para carros.
Ele também dá seu veredito sobre a hora certa de comprar um veículo:
“Agora é a hora do consumidor fazer a sua pesquisa.
As concessionárias e
as montadoras estão abarrotadas de carros e estão fazendo um grande
esforço para poder vender”.
Qual o balanço das vendas do setor no país nesse primeiro semestre do ano? Foi um começo de ano ruim?
A
nível Brasil, o mercado já teve queda de 7,33% no primeiro semestre, em
relação ao mesmo período de 2013.
Comparando junho com junho
[2013-2014], houve queda de 17%. É uma queda gigantesca, não era a
perspectiva do mercado.
O mercado projetava para o ano que seria zero a
zero, um não crescimento.
Há dez anos o Brasil só vem tendo crescimento.
O país saiu de 1 milhão e 700 carros emplacados por ano e bateu o
recorde nacional em 2013, com 3 milhões e 500. A queda esse ano foi
acima do esperado.
Isso já está se refletindo nos pátios. O tempo
médio de um carro na montadora era de 20 a 25 dias, a nível nacional.
Hoje, está em 47 dias. Com isso, as fábricas começam a pagar juros,
estão pagando pátio extra, fora da fábrica.
E isso também acarreta em
férias coletivas porque não adianta continuar produzindo se não estão
vendendo. Podemos dizer que o setor começa a viver uma crise no Brasil.
Como o ajuste da taxa básica de juros (selic) no início do ano e a perda de crédito influenciou nessa queda?
Isso
influencia diretamente o nosso negócio. Em torno de 55% dos carros são
financiados.
O maior vilão nem é o aumento da taxa de juros. O
consumidor até aceita pagar os juros que estão cobrando, mas não existe
crédito. Foi aberto muito crédito no Brasil e teve muita venda de carro
com zero de entrada e 60 meses para pagar.
Agora, está tendo muita
desistência dos carros e as financeiras estão avaliando mais os riscos.
Então hoje, para se aprovar crédito com zero de entrada, a pessoa tem
que ter um crédito muito bom.
A média dos bancos para aprovar uma
entrada fica acima de 20%, 30%. Aquele sonho de não dar nada de entrada,
se não tiver crédito muito bom, a pessoa não consegue.
A taxa de inadimplência hoje está alta?
A inadimplência do segmento automotivo está em torno de 3,5%, o que é muito alto. Era para ser em torno de 1,7%, 1,8%.
A Copa impactou nos resultados de junho?
A
Copa impactou justamente na questão dos dias úteis. O mês de junho só
teve para nós 12 dias úteis no Rio Grande do Norte.
Quando não tinha
jogo do Brasil, tinha jogo em Natal e o consumidor não veio às
concessionárias nesses dias para comprar. Esse foi o pior junho dos
últimos cinco anos. Para o setor automotivo, a Copa não trouxe nenhum
benefício.
O segmento de hotel também não teve uma demanda boa
junto às locadoras.
Os hotéis estavam reclamando que não estavam tendo
tantas reservas.
O setor de locadoras também não se preparou porque não
viu toda essa demanda para os quatro dias de jogos aqui, então para o
nosso segmento não foi interessante a Copa do Mundo.
Qual o balanço de junho e do semestre no Rio Grande do Norte?
Junho
fechou com queda de 13,7% no Rio Grande do Norte, no comparativo com
junho do ano passado.
E no semestre, o setor caiu 8,32% no estado. Ou
seja, o Brasil caiu 7% e o estado caiu ainda mais.
É interessante notar
que no Nordeste, as vendas só caíram 4%. Ou seja, existe um problema no
estado.
Isso é um reflexo da confiança da questão do Governo e do
Município, de não honrarem os compromissos com seus fornecedores.
Nós
temos exemplos de locadoras, que são nossos clientes, que estão há mais
de seis meses sem receber do Governo por locação. Com isso, elas não
conseguem renovar a frota. Isso também influencia na ponta.
As
concessionárias já demitiram cerca de 15% dos funcionários em 2014, o
que representa 400 empregados a menos.
Outro ponto que nos afeta é
a questão das empresas de ônibus, que estão em dificuldades.
O não
aumento da tarifa acaba nos afetando porque não conseguimos vender
ônibus para as empresas.
Não se vende ônibus novo no estado há mais de
dois anos. Com isso, a média de idade da frota de Natal é de cinco anos.
Qual a expectativa para o segundo semestre?
Foi
dada uma estimativa Brasil, esse é um número recente, de que a economia
do país ia ter queda de 2% a 4%.
Acompanhando essa tendência, se nesse
semestre nós perdermos 8%, para chegarmos a ter uma queda de 4%, esse
semestre a gente vai ter que crescer 4% em relação ao primeiro semestre
para que se tenha uma queda de 3% a 4% no ano.
Então nós esperamos um
crescimento de 4% a 5% no segundo semestre em relação ao primeiro para
quando acabar o ano o estado e o Brasil tenham uma queda entre 3% a 4%
no acumulado das vendas.
Essa é uma expectativa de certa forma otimista em face dos números recentes...
É
um número que Fenabrave e Anfavea projetam porque o segundo semestre
sempre é melhor do que o primeiro.
No segundo semestre tem as eleições,
que é um outro fator, mas não se sabe como o mercado vai se comportar,
se vai ser otimista e comprar ou pessimista, esperando o que vai
acontecer com o país e com o estado.
Então, estamos vivendo um momento
de otimismo – porque precisamos – mas também de cautela porque não
estamos vendo nada de diferente acontecer até o final do ano.
Os bancos
não sinalizam nada de melhora na questão do crédito. E a dificuldade é o
acesso ao crédito, por conta da inadimplência que vem alta nos últimos
meses.
O
Governo Federal manteve a redução do IPI dos carros, que deveria acabar
em julho, até o mês de dezembro. Quais os resultados que isso deve
trazer para o setor?
Se o Governo Federal tivesse
aumentado o IPI, ia ficar muito pior. Estamos falando de uma antecipação
de compra que houve no ano passado, ou seja, pessoas que se programam
para trocar de carro a cada quatro anos, com o benefício do IPI,
anteciparam essa compra.
O que estamos passando agora é um reflexo da
antecipação de compra que houve em 2013 e em 2012.
Porque desde 2012 o
Governo vem com essa teoria de baixa IPI, sobe IPI, para dar estímulo,
mas agora estamos sofrendo um reflexo disso.
O Governo não
aumentou, mas os números ainda estão caindo. Se tivesse aumentado, acho
que esses números iam para 5%, 6%, 7%. Mesmo não aumentando, acho que
vamos ter queda de 4%. O mercado já esperava isso.
Tinha muito
consumidor com quem a gente falava: “Compre o carro que o IPI vai
aumentar”.
E ele nos dizia: “Pode apostar que o IPI não vai aumentar
porque as vendas já estão ruins, se o Governo aumentar, aí que vai
cair”.
Já foi possível sentir alguma melhora nas vendas de julho com a manutenção da alíquota?
Depois
da notícia do ministro de que não ia aumentar o IPI, ainda não tivemos
nenhum reflexo positivo nas vendas.
Permanece na mesma velocidade que
vinha porque o consumidor já está acostumado com essa dose homeopática
do IPI.
Na sua opinião, a redução do IPI é suficiente ou é preciso adotar outras medidas?
A
carga tributária no país em cima do carro ainda é muito alta. O preço
pago no automóvel no Brasil, comparado com mercados como Estados Unidos e
México, ainda é muito alto. Para incentivar mais ainda, acho que tem
que ter incentivos do Governo.
Uma das coisas que eu vejo em
congressos americanos é que está tendo um novo sentimento no consumidor.
Ele não está dando ênfase ao automóvel, mas sim à qualidade de vida, em
meios de transporte públicos eficientes.
A questão do automóvel
é que você fica horas e horas nos engarrafamentos.
Em Natal, ainda não
temos tanto, mas está começando a ter cada vez mais.
Uma insatisfação
que o mercado vive é que, com tanta arrecadação que o setor de automóvel
dá ao Governo, pouco é investido em melhorias públicas para desafogar o
trânsito.
Temos aqui em Natal esses viadutos e túneis, mas a pergunta
é: será que isso vai ser a solução? Ou consumidor está mais interessado
em faixas expressas para ônibus? É uma coisa que o mundo todo pensa, no
progresso do setor automobilístico, com vias rápidas para automóveis e
corredores de ônibus.
O
senhor mencionou que o peso da carga tributária em cima do preço do
carro é alta. Qual é o percentual dessa carga, já com a redução do IPI,
em cima do preço do carro?
O total da carga tributária é
de 22% em cima de um carro 1.6. No caso de um carro 1.0, esse valor é de
21%. É uma carga violenta sobre o automóvel.
O IPI é só uma parte
disso, mas existe o ICMS, o PIS, Cofins e todos os outros encargos.
Enquanto o lucro em cima de um automóvel pela concessionária é de 5%, o
lucro do Governo fica em torno de 22%.
É possível o setor baixar mais o preço ou está num limite em que isso não é possível?
Nós
não temos acesso ao lucro das montadoras, mas o lucro médio de um
automóvel gira na casa de 5%.
Se a gente fala em uma automóvel popular,
de R$ 30 mil, o lucro fica em torno de R$ 1.500.
Na venda de um carro de
R$ 100 mil, a concessionária vai ganhar R$ 5 mil. É uma margem que está
no limite porque se a concessionária ganha 5%, desse valor tem que
pagar propaganda, água, energia, funcionário. As concessionárias vivem
na última linha com 1,5% de rentabilidade.
Para o consumidor, é um bom momento para comprar um carro?
Com
certeza. Concessionárias e montadoras estão abarrotadas de carro e
estão fazendo um grande esforço para poder vender, com promoção,
desconto, taxa subsidiada pela montadora, IPVA grátis, som grátis. É a
hora do consumidor fazer a sua pesquisa porque ele vai ter poder de
barganha.
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