O
condomínio Bosco Verticale (Bosque Vertical) localizado próximo ao
centro histórico de Milão, no norte da Itália, venceu o International
Highrise Award - considerado o "prêmio Nobel" da arquitetura dedicada
aos arranha-céus.
Suas duas torres, com 80 e 112 metros de altura,
se assemelham a gigantescos troncos de árvores.
E seus apartamentos
surgem como "raízes" para os ramos e os galhos, em um projeto que vem
sendo elogiado por proporcionar uma espécie de simbiose entre o homem e a
natureza, num ambiente hostil ao verde, ou seja, as metrópoles.
O
Bosco Verticale venceu 800 concorrentes de 17 países diferentes na
premiação, que é concedida pelo Museu de Arquitetura de Frankfurt, na
Alemanha.
A premiação leva em conta critérios como inovação,
sustentabilidade, fachada, qualidades internas e aspectos sociais
ligados ao contexto urbano e à criação de um design pioneiro.
"Este
é um projeto maravilhoso que confirma a grande necessidade do homem de
ter o verde ao seu redor", afirmou o relator do prêmio e vencedor da
edição passada, Christoph Ingehoven, aos ganhadores Stefano Boeri,
Gianandrea Barreca e Giovanni la Varra.
Skyline
A
construção das torres chama atenção no horizonte milanês, marcada por
um novo skyline, com arranha-céus espelhados na zona de Porta Nuova, que
foi recentemente reurbanizada.
A expectative é a de que o condomínio represente uma espécie de abre-alas de uma nova tendência arquitetônica.
"A
ideia nasceu em Dubai, em 2007. Percebi como uma ‘explosão’, a presença
de 30, 40 torres de vidro temperado, diante do meu grupo de estudantes.
Começamos a imaginar, a raciocinar sobre a possibilidade de revestir
tudo com plantas, ao invés de vidro.
Mas não apenas com plantas
ornamentais. Mas com árvores verdadeiras, de 3, 5, 6, 9 metros de
altura. Este projeto é uma casa de árvores onde moram os humanos", disse
o arquiteto Stefano Boeri para a BBC Brasil.
Os dois edifícios-protótipos
levaram cinco anos para sair da planta. Foi necessária uma complexa e
cara pesquisa para criar um sistema de irrigação – com a água do lençol
freático- e, principalmente, ancorar bem as árvores e evitar que as
fortes correntes de vento, naquela altura, provocassem maiores riscos.
"O
morador não tem que regar as plantas. Uma central computadorizada se
encarrega desta tarefa quando for preciso. As árvores foram presas numa
espécie de rede de ferro saldada na estrutura.
Elas são um bem comum e
pertencem a todos", afirma Stefano Boeri.
Árvores
Na
realidade, as árvores fazem parte da estrutura do prédio, devido ao
peso e ao posicionamento. E para a sua distribuição pelas quatro
fachadas de cada torre, dentro de tanques especiais, foram feitos testes
em duas galerias do vento: uma em Miami, nos Estados Unidos, e outra no
Politécnico de Milão, onde o arquiteto Stefano Boeri é também
professor.
Elas são o carro-chefe de uma flora composta de 800
árvores, 5.000 arbustos, 11.00 plantas menores, de uma simples camélia a
uma magnólia passando pela oliveira, jasmim e acácia, entre outras. Tem
lugar até para as trepadeiras.
De noite, a iluminação projeta ,nos
tetos das varandas e dos terraços, as sombras dos galhos e das folhas e
garante um belo efeito visual.
Todas as mudas foram escolhidas na
primavera de 2010 e cultivadas nos viveiros até o momento da
"transferência" na nova casa. "Acho que este é um ponto fundamental do
projeto: a biodiversidade.
Cerca de cem espécies foram plantadas nos
prédios", Stefano Boeri. Juntas elas cobrem uma área de dois hectares,
equivalente a dois campos de futebol.
Frescor
Esta
cortina verde proporciona uma diminuição de 2 a 3 graus centígrados
durante o verão.
E isto significa a economia de energia. Durante o
inverno, quando as folhas caem, o bosque vertical vai receber maior
quantidade de luz.
Com o apoio de duas agrônomas, Laura Gatti e
Emmanuela Borio, as plantas foram escolhidas a dedo para evitar alergias
e resistir às novas condições meteorológicas.
Além disso, a cobertura
vegetal, vertical, acompanha as cores das estações.
Durante o outono, a
fachada das torres vai ganhar os tons de amarelo e vermelho e laranja.
Na primavera, as flores irão colorir o condomínio. O edifício se torna
um organismo vivo, literalmente.
Os próximos dois anos irão ser
fundamentais para a adaptação do bosque vertical.
Além do morador,
humano, espera-se a chegada de novos vizinhos como as joaninhas e
outros inofensivos insetos e aves, algumas migratórias, como as
andorinhas. " Sei que um casal de falcão já fez um ninho numa árvore que
foi plantada dois andares abaixo da copa. Fazia muito tempo que não se
via um falcão por aqui", afirma Boeri.
Mas ainda é cedo para
avaliar a emoção provocada no homem. Foram vendidos 60% dos 113
apartamentos, a um valor médio equivalente a R$ 24 mil o metro quadrado)
e ainda há poucas famílias vivendo no local, onda a taxa mensal de
condomínio custa o equivalente a R$ 10 mil.
Modelo
No
entanto, o modelo do Bosco Verticale pode ser adaptado às construções
antigas e mais baratas. "Este projeto pode ser usado na reforma de
outros prédios, a pesquisa e as soluções já foram feitas, e estamos
trabalhando em complexos residencias sociais", diz Boeri.
Ele
espera que este tecnologia possa servir de impulso para que as novas
construções sejam menos envidraçadas e mais esverdeadas.
O
arquiteto defende a verticalização das cidades em contextos urbanos já
desenvolvidos.
"A ocupação de novas te
Temos que crescer em altura mas com
equilíbrio. Prédios entre 80 e 200 metros, no máximo, com muito verde.
O
fluxo de pessoas nas cidades é potente, penso no Rio de Janeiro, em São
Paulo.
O Bosco Verticale é uma contribuição a um novo "relacionamento"
entre a natureza e a arquitetura e o homem", diz Boeri.
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