globo de ouro
Em tempos de YouTube, é fácil esquecer que houve uma época cujas rádios e
as novelas ditavam as paradas de sucesso, restando ao espectador se
programar em determinado horário na frente da TV para assistir ao seu
cantor ou à sua banda favorita entoar o hit do momento.
O programa “Globo de Ouro”, exibido pela emissora dos Marinho entre
1972 e 1990, e atualmente reprisado pelo canal pago Viva, resgata esse
cenário mais ou menos distante da cultura pop nacional.
A direção do canal, pois bem, entendeu o recado. É a chamada geração
Y, nascida e criada nesse contexto, que hoje dita a programação.
Diferente do saudosismo experimentado por outras gerações, o atual
revival dos anos 80 e 90 conta com a ajuda da internet para se propagar e
dos meios especializados, como o próprio Viva.
Esta facilidade toda em resgatar o passado faz, muitas vezes, que os
canais tropecem na armadilha de tentar recriar a nostalgia, quase como
um botox sentimental.
Durante várias apresentações do “Globo de Ouro
Palco Viva” (que estreou nesta última segunda com dez episódios
gravados), foi exatamente essa sensação que ficou no espectador.
Com a proposta de unir os sucessos atuais e antigos em uma nova
versão do “Globo de Ouro”, a atração do Viva tentou, pelo menos de modo
geral, reproduzir o programa original: a plateia animada, a dupla de
apresentadores chama-holofotes (os bem entrosados Juliana Paes e Márcio
Garcia), a empolgação em torno de cada apresentação.
Mas este entusiasmo, que em outras décadas se baseava na expectativa
de ver o ídolo e de ouvir a música que só tocava em momentos definidos
do dia (programa X da rádio Y), foi esvaziado no “Palco Viva”.
Não que a
culpa seja do programa em si, mas não dá para recriar uma atmosfera tão
particular, em condições tecnológicas tão diferentes como as de hoje,
cujas músicas e cantores antigos podem ser acessados em qualquer
plataforma (computador, tablet, smartphones), sem frescuras.
No “Palco Viva” abundaram performances cansadas, deslocadas, como os
da funkeira Anitta e seu único-hit “Show das Poderosas” e de Preta Gil
regravando Marina Lima.
Xuxa garantiu a cota de constrangimento ao se apresentar com Paquitas
a tiracolo, e a plateia no estúdio parecia sentir o mesmo embaraço.
Nem
as performances razoáveis de Biafra, Buchecha, Adriana Calcanhoto e os
ex-membros de super bandas do rock oitentista amenizaram a sensação de
show em barzinho no fim da noite.
A lição que fica para o Viva é a de não tentar, mesmo com boas
intenções, trazer o passado de volta apenas com novo figurino, pois hoje
o original está a um clique de distância, independente de suas
ombreiras cafonas
Ariane Fabreti é a nova colunista do NaTelinha. Formada em
Publicidade e em Letras, adora TV desde que se conhece por gente.
Escreve sobre o assunto há seis anos.
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