A coluna "Enfoque NT" traça a história da emissora, tendências criadas por ela e diversidade na programação.
A Globo chega ao
meio século de operações neste domingo, 26 de abril. São 50 anos em que
sua história e a da televisão se confundem, assim como, de certa
maneira, da cultura brasileira.
Jose Bonifaço e dr. roberto marinho.
o projac.
Ao longo desses anos todos, é inegável dizer que a emissora da
família Marinho criou hábitos, embora alguns tenham se perdido ao longo
do tempo, em função da concorrência mais forte e da proliferação de
outras mídias, mas o fato é que a Globo contribuiu - e muito - para
ditar hábitos, modas e costumes por todo o Brasil.
Da febre das meias de lurex usadas por Sônia Braga em "Dancin' Days"
(1978) ao bordão ''Tô certo... ou tô errado?'', do Sinhozinho Malta de
Lima Duarte, balançando as pulseiras em "Roque Santeiro" (1985)... O
melhor exemplo disso é a telenovela.
Não é segredo pra ninguém que é a
Globo quem produz as melhores novelas do mundo, e também as mais
“complexas”.
O gênero se difundiu no Brasil a partir da década de 1960
ganhando popularidade e prestígio junto ao público e mercado
publicitário pela inovação da emissora em tratar do cotidiano brasileiro
contemporâneo de forma mais realista.
O modelo ideal de programação, criado no final daquela década por
José Bonifácio Oliveira Sobrinho, o Boni, se mantém intacto até hoje,
com três novelas e dois telejornais entre elas para segurar o público.
O
pilar e a estrutura inicial ainda se mostra eficaz, apesar dos pesares e
das dificuldades em se manter com alta audiência com um público muito
mais participativo e exigente e cheio de opções que o daquela época.
A novela é o que é hoje, o grande produto da televisão brasileira,
muito graças a Globo. Já dizia Boni: “Um programa muda a audiência de um
horário.
A novela muda a posição de uma emissora”. E não é que é
verdade? Afinal, foi por esse caminho que a Globo chegou onde chegou.
E
as ameaças que ela sofreu em perder o primeiro lugar, também. Vide as
tentativas da extinta TV Manchete, Record e até mesmo o SBT, embora
Silvio Santos tenha conseguido utilizar de outras armas durante a década
de 1990 e começo dos anos 2000 como realities, games e jornalísticos.
Entretanto, ficou provado que foram apenas espasmos.
Nada tão sólido como telenovelas. E a sua popularidade é uma das
“culpadas” pelas famigeradas séries estadunidenses não se darem tão bem
em terras tupiniquins.
Foram poucas em televisão aberta que realmente se
destacaram. O culpado? Nosso processo cultural foi outro dos
estadunidenses, canadenses ou europeus.
Não há paciência em se esperar
um episódio por semana, já que criou-se o hábito de acompanhar a mesma
história todos os dias. Tanto é que algumas séries fizeram relativo
sucesso por aqui pelo formato exibido: diário.
Referência
Este texto não é para rasgar seda à Globo, até porque ela não precisa
disso. E como todos os outros canais de televisão por aqui têm seus
defeitos e qualidades, e uma destas qualidades está no padrão de
qualidade ainda implantado por Boni há quase 40 anos. É uma identidade
que já tentou, sem sucesso, ser copiada.
No intuito de não ser uma emissora segmentada, ou seja, de atender os
telespectadores sem distinguir idade, sexo e classe social, a Globo
cerca seus projetos de pesquisas qualitativas e quantitativas.
Não por acaso, na vontade de atender aos desejos do telespectador com
pluralidade, a programação foi se tornando, ao longo desses 50 anos,
cada vez mais própria.
Hoje mais de 90% do que vai ao ar na Globo é
produção doméstica - boa parte concebida num espaço de 1,6 milhão de
metros quadrados, a Central Globo de Produção ou Projac, na Zona Oeste
do Rio de Janeiro.
Inaugurado em 1995, o Projac é um mundo de sonhos,
com estrutura ultramoderna, que aumentou a força produtiva da emissora.
O
resultado foi a multiplicação de minisséries, seriados e programas
especiais num número invejável, exportando parte do que é produzido para
o mundo todo.
Afinal, por que a Globo é líder?
Muitas opiniões permeiam este assunto, mas a Globo é o que é, além da
excelência indiscutível de suas produções, o canal de televisão aberto
mais completo.
Há de tudo: dramaturgia, humor, filmes, esportes,
jornalismo e programas de auditório. Justamente por não ser segmentada e
atender todas as demandas, é uma televisão sem “nicho”. Feita para a
massa.
Enquanto outras têm overdoses de jornalismo, como a Record ou o SBT,
que no caso se lambuza de infantis e enlatados, a Globo mantém um
equilíbrio em sua grade de programação.
Últimos anos
De um tempo pra cá, é notório que a Globo mudou muita coisa. Dá mais
liberdade de criação, repaginou sua programação visual e tem aquilo que
hoje é denominado de “descontrole de casting”.
Isto é, quando um ator,
por exemplo, sai de uma novela diretamente pra outra e aparece em várias
produções num curto espaço de tempo. Isso tem ocorrido, bem como a
repetição de temas em novelas e programas da casa, levando muitos a
acreditarem que ela esteja perdendo “padrão”.
Tudo isso é muito delicado e precisa ser tratado realmente com mais
cuidado, mas a Globo completa 50 anos hoje num primeiro lugar
confortável mesmo numa crise aguda que ronda seu horário nobre e a
novela das 21h.
É preciso continuar fazendo a manutenção diária de sua liderança e
qualidade para que ela não se perca nesse futuro, que como ela mesma faz
questão de dizer: “já começou”.
fonte: Thiago
Forato é jornalista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.