Estado tem 3,7% de seus moradores na extrema pobreza.
Percentual só não é maior do que o do Norte-Nordeste.
O Estado do Rio tem 565.135 pessoas vivendo abaixo da linha
da extrema pobreza.
A série de reportagens "Os miseráveis" mostra
como e onde vive quem precisa driblar dificuldades como desemprego e fome.
São
3,77% da população do estado nessa situação, segundo dados do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O percentual é o maior entre todos os
estados das regiões Sul e Sudeste, superando apenas os do Norte-Nordeste e Mato
Grosso, no Centro-Oeste.
Histórias de miséria
A fome está sempre à espreita de quem vive abaixo da linha da
extrema pobreza, como José Roberto...Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
A casa de José Roberto Lima fica perto de um lixão, na
Baixada Fluminense. Ele vive de doações.
Na casa da família Ferreira, em Japeri, são cinco filhos, mas
eles não recebem benefício social.
Na casa de Roberto e Nilceia da Silva, em Engenheiro
Pedreira, Japeri, moram 10 pessoas.
Em Japeri, o banho na casa de Roberto e Nilceia da Silva é só
de balde.
A casa da faxineira Arlete Silva, em Laranjal, Japeri, tem
apenas dois cômodos.
Diana, de 6 anos, e Adriel, de 8, estudam na casa erguida à
beira de um rio em Belford Roxo.
Diana, de 6 anos, e Adriel, de 8, estudam na casa erguida à beira de um rio em Belford Roxo.
Pelanca é a sobra da carne, a parte desprezada que pode ir
tanto para o cachorro quanto para fábricas de sabão, que usam sebo como
matéria-prima.
Mas, na casa de Lúcia Pereira da Silva, sem água ou esgoto, num
mangue à beira da Baía de Guanabara, em Magé, pelanca é dia de festa.
Sinal de
que sobraram 40 centavos para comprar um quilo do que, para muitos, é lixo.
“Às
vezes vem um pedacinho de carne junto. Tempero com louro e ponho no feijão.
Fica gostoso”, diz. A 60 quilômetros dali, em Belford Roxo, José Roberto Lima —
idoso esquálido que vive numa casa sem banheiro — lança mão da pelanca para
alimentar seus três cães magros.
Mas guarda um tanto para a própria sopa, feita
com grãos dos mirrados pés de feijão que planta no quintal. Lúcia e José
Roberto não fazem parte do Rio do cartão-postal.
Estão entre os 565.135 fluminenses
que sonham alcançar a pobreza. Porque o lugar deles é outro. Eles vivem na
miséria.
Na indigência, como os dois, encontram-se 3,77% da população
do estado, revelam números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Gente suficiente para encher uma cidade como Niterói. Os dados, que tomam como
base a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) 2013, do IBGE, mostram
ainda que o Estado do Rio, sexta maior renda per capita do país, fica mal perto
de seus vizinhos.
Tem um percentual maior de miseráveis do que todo o Sul e
Sudeste. No Centro-Oeste, só Mato Grosso está em situação pior.
Os deserdados
do estado que sediará as Olimpíadas de 2016 são tema da série de reportagens
“Os miseráveis”, que O GLOBO publica a partir de hoje.
Durante um mês, equipes
percorreram os bolsões de extrema pobreza para contar as histórias de cidadãos
que têm renda per capita inferior a R$ 140,70, quantia necessária para comprar
uma cesta de alimentos com a quantidade mínima de calorias, de acordo com os
critérios do Ipea.
INFOGRÁFICO: RANKING DA MISÉRIA NO BRASIL
Valor, aliás, que é um sonho distante para José Roberto. Aos
69 anos, com as mãos calejadas depois de uma vida dividida entre a roça e a
construção civil, ele não tem renda.
Conta com a solidariedade dos vizinhos,
que dão um jeito de dividir a comida para que ele não viva só de feijão.
As
doações vão parar no fogão a lenha, já que ele não tem R$ 50 para pagar o
botijão de gás.
— Eu vivo com o que Deus me dá. E só. Roubar, eu não vou —
afirma.
Lúcia, a senhora de 63 anos que engana o estômago com a
pelanca, também dá seu jeito.
Vive, junto do marido desempregado e tuberculoso,
e do filho de 21 anos, tampouco com trabalho, com menos de R$ 200 do Bolsa
Família.
Não dá nem R$ 70 por pessoa — dinheiro insuficiente para pagar um
cafezinho diário. Água, ela bebe a que é dada pela chuva.
Está difícil para
Lúcia, mas é o casal Luiz Cláudio Feliciano e Alana da Silva quem leva uma vida
de cachorro.
E não é figura de linguagem. Os dois moram, com os filhos, de 2
anos e de 10 meses, num canil em Tanguá, município com o terceiro maior
percentual de miseráveis, atrás de São Francisco de Itabapoana e Porciúncula,
de acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social.
O local foi
adaptado, mas ainda é possível ver as divisórias para os animais.
A família
vive no espaço de três delas, e foi parar lá após Luiz Cláudio perder o emprego
na vizinha Itaboraí. Como tantos excluídos, depende dos R$ 180 do Bolsa
Família.
DESEMPREGO QUE ANGUSTIA
Luiz Cláudio acorda todos os dias às 5h para procurar
trabalho. Mas, em Belford Roxo, a reação de Marco Saboya diante do desemprego é
outra.
Desde que foi dispensado de uma obra, onde ganhava R$ 700 para sustentar
a mulher, Mônica, e os filhos Adriel, Diana e Kailane, de 8, 6 e 5 anos,
respectivamente, passou a ter crises de ansiedade.
Acorda sem conseguir
respirar e bota, a cada minuto, a mão no peito, desconfiado de um infarto que o
médico já descartou — é angústia o que sente.
— Às vezes, ele sai gritando pela rua, tenho que ir atrás.
Tento fazer bicos, mas é difícil porque Marco não põe os filhos para a escola —
diz Mônica, que ganha R$ 182 do Bolsa Família.
As enchentes já carregaram o pouco que a família tinha, levando
Adriel a decretar:
— Vou estudar e ganhar muito dinheiro para comprar outra
casa.
Teresa Cosentino, secretária estadual de Assistência Social,
argumenta que a redução da miséria no Rio, que tem um programa próprio de
complementação de renda, é significativa.
Em 2003, eram 1.109.863 indigentes.
Em 2011, 481 mil. Em 2012, subiu para 550.140, e, em 2013, cresceu para
565.135.
— É um movimento natural. Quando você está de dieta, perde
mais peso no início ou no final? No fim, é mais difícil mesmo — diz Teresa.
Especialistas não têm uma explicação única para o desempenho
do Rio, segundo estado que menos diminuiu proporcionalmente a miséria, entre
2003 e 2013, atrás apenas do Maranhão. Para eles, são vários calcanhares de
Aquiles.
— O Rio tem uma periferia da periferia, como Japeri. São
Paulo, por exemplo, tem subcentros importantes economicamente na área
metropolitana e no interior.
Nós, não — diz a economista Sônia Rocha,
pesquisadora do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).
Outra explicação pode estar na estrutura do mercado de
trabalho fluminense, dizem os economistas Valéria Pero, Adriana Fontes e Samuel
Franco.
Eles lembram que o Rio tem, entre os mais pobres, uma taxa de
desemprego maior do que a média nacional.
A população mais desfavorecida acaba
buscando alternativas na informalidade, que, por sua vez, não leva à superação
da pobreza.
Outro fator é a elevada desigualdade no estado. E é
justamente a melhor distribuição de renda, aliada ao crescimento econômico, uma
das receitas para reduzir a pobreza.
Para piorar, o desenvolvimento do Rio nos
últimos anos, impulsionado pelo petróleo, ocorreu mais fortemente fora da
Região Metropolitana, que concentra 74% da população.
O eletrodoméstico que denuncia a penúria: na casa da família
Ferreira, em Japeri, a geladeira praticamente só tem água - Márcia Foletto /
Agência O Globo
Geladeira vazia, a expressão que, dos remediados para cima,
significa que a ida ao mercado está atrasada, tem um significado literal na
casa de quem já cruzou a linha da pobreza rumo à miséria.
Na maioria das vezes,
o eletrodoméstico guarda só água. Ou, em dias de bonança, uma panela de arroz
com feijão ou quatro espigas de milho, como no cômodo em que Roberto da Silva
Paiva mora com a família, no centro de Japeri.
Contando com os R$ 620 do Bolsa
Família para sustentar a mulher, cinco filhos e três netos, Roberto, quando
consegue um terreno para capinar, acrescenta R$ 50 ao orçamento. E se vê às
voltas com uma escolha de Sofia:
— Tenho que decidir se compro arroz para todos ou leite para
o Abraão, meu netinho. Ele tem três meses e nasceu com sífilis. Pegou da mãe.
Dúvidas sobre o que guardar na geladeira, Sirlene Henrique,
que vive em Sumidouro, na Região Serrana, não tem. A dela está desligada da
tomada:
— Não tenho nada para colocar dentro mesmo. Uso como armário.
A nutricionista Ana Paula Bucar enumera as consequências de
uma dieta tão pobre:
— A deficiência proteica pode causar perda de massa muscular,
afetar o funcionamento do coração, prejudicar o raciocínio.
Para uma pessoa ter
o mínimo diário de 1.500 calorias, teria que comer pelo menos 30 colheres de
sopa de arroz. E mais trinta de feijão.
Os invisíveis
Na casa da família Ferreira, em Japeri, são cinco filhos, mas
eles não recebem benefício social algum - Márcia Foletto / Agência O Globo
Ela deu à luz, pela primeira vez, aos 13 anos e costumava
almoçar os restos que encontrava no lixão.
Foi atendida em mais de um hospital
após as inúmeras surras do companheiro, diariamente lembradas pelo espelho —
faltam três dentes da frente, arrancados a murros.
Mesmo com este histórico,
que mistura miséria e violência, Fabiane Ferreira não conseguiu chamar a
atenção do Estado.
O poder público só apareceu para ameaçar tirar seus cinco
filhos. Aos 29 anos, Bia, como é chamada pela família, faz parte de uma legião
de extremamente pobres, com pouco ou nenhum estudo, que não consegue sequer ter
acesso aos programas de complementação de renda. Para o poder público, Bia é
invisível.
— Meus filhos estão na escola e soube que posso ganhar ajuda
do governo.
Mas, no lugar que cadastram, me pediram CPF. Eu não tenho. Ninguém
me explicou como fazer, nem tenho com quem deixar as crianças para correr
atrás.
Jogada à margem, Bia vive em Japeri, cidade que amarga o pior
índice de desenvolvimento municipal do estado, segundo levantamento da
Federação das Indústrias do Rio (Firjan). Lá, a renda per capita é de R$
420,15, um valor que, para Bia, é coisa inventada.
Ela tem um trabalho que vale
pouco: toma conta de um sítio em troca de um teto e da promessa de uma cesta
básica. No quintal, há aipim, mas daquela terra ela não pode colher — é tudo do
patrão.
O marido de Bia é caminhoneiro e leva para casa quase R$ 800. Mas paga
R$ 500 na prestação da moto que comprou para trabalhar porque, na periferia de
Japeri, não há ônibus para o lugar onde a renda está.
A família faz malabarismo
para comer com os R$ 300 que sobram. Para ajudar, Bia anuncia no portão que faz
salgadinhos para vender.
Cada um custa 35 centavos, mas, mesmo assim, a
freguesia não aparece.
É tão miserável quanto ela. O que salva é que tem fruta
no quintal da vizinha, que deixa as crianças de Bia, uma escadinha que vai dos
6 aos 15 anos, pegar bananas e umbu. Ela reclama? Não. Sua vida, diz, já foi
pior:
— Meu primeiro marido quebrou meu dedo, meus dentes, batia
nas crianças.
O atual é bom para mim. A gente não passa fome todo dia, consegue
ter arroz e feijão. Antes, eu ia para o lixão, catava para dar de comer às
crianças.
BUSCA ATIVA DEIXA A DESEJAR
Por serem invisíveis aos olhos governamentais, pessoas como
Bia não conseguem ser beneficiadas pelos programas sociais. Para encontrar
pessoas como ela, prefeituras de todo o país fazem a busca ativa — quase um
bater de assistentes sociais de porta em porta em busca da miséria e dos
excluídos.
No Brasil todo, foram localizadas e incluídas no Bolsa Família, nos
últimos quatros anos, 1,4 milhão de pessoas em situação de extrema pobreza.
São
Paulo alcançou, através da busca, 19% deste total. O Rio, 9,9%.
A Secretaria
estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos tem um programa de
complementação de renda próprio, que beneficiou 237.785 famílias este mês.
A
titular da pasta, Teresa Cosentino, reconhece, porém, que a população
extremamente pobre é a mais difícil de ser detectada.
— A busca ativa não está muito forte no Rio. Queremos botar
assistente social dentro dos restaurantes populares para ver se conseguimos
chegar mais perto.
O cadastro é feito pelos municípios, e é falho. Ainda temos
muito invisíveis. Muita gente sem CPF, criança sem documentos, sem vacina, sem
Bolsa Família. Não são cidadãs.
Teresa não o conhece, mas fala de gente como seu Joaquim da
Conceição. Título de eleitor, ele nunca teve. Aos 52 anos, jamais votou.
A
certidão de nascimento e a identidade, uma enchente levou. Mas isso é o de
menos.
No casebre onde vive, com chão de terra em Itambi, uma das áreas mais
pobres de Itaboraí, a fome está sempre à espreita. Carne, seu Joaquim nem
lembra quando foi a última vez que comeu.
O comum é fazer uma refeição por dia,
que ele chama de macadâmia. Nenhum parentesco com a noz fina: trata-se de uma
mistura de macarrão, angu e feijão.
— Mas nem sempre tem. Pão, só como quando busco na igreja —
conta.
Com uma dieta tão restrita, as pernas fraquejam, e seu
Joaquim apela para um cajado na hora de andar. Analfabeto, engrossa o mercado
de trabalho informal.
Sua vida é varrer e capinar o quintal dos vizinhos. Ganha
cerca de R$ 50 por mês.
Não dá para nada. Banheiro? É o mato. Televisão,
geladeira, um agasalho para o frio, ou mesmo escova de dentes não fazem parte
de seu universo. Falta até a esperança de dias melhores:
— Aqui todo mundo é pobre. É assim mesmo. Sou eu, Deus, e
pronto — resume.
É a solidariedade dos menos miseráveis que salva os mais vulneráveis
no Parque Veneza e em Corumbá, duas áreas de Magé que aparecem com os maiores
percentuais de extremamente pobres na Região Metropolitana.
Nos dois bairros,
9,3% dos moradores vivem na penúria. Sem ter todos os documentos, Fernanda Brás
Silva, de 18 anos, espera o terceiro filho.
Ela também entra na categoria dos
invisíveis para o Estado. Mas é vistosa demais para um emprego.
— Fernanda já trabalhou em casa de família, mas não consegue
mais nada porque é muito bonita.
As patroas ficam com medo dos maridos se
engraçarem — diz Elisabeth Cristina da Silva, uma espécie de anjo da guarda das
excluídas da vizinhança.
A DURA VIDA DE GRACE KELLY
Foi Elisabeth quem construiu um barraco de madeira no próprio
quintal para abrigar a gestante, expulsa de casa pela avó ao descobrir a
gravidez.
Como única renda, Fernanda recebe R$ 120 de pensão de um
ex-companheiro.
A filha mais nova, Laís, de nove meses, entregou para uma
parente criar — o bebê é alérgico à lactose, e a mãe não pode bancar o leite
especial, que sai a R$ 40 a lata. Ficou apenas com Grace Kelly, sua filha com
nome de princesa.
— O que eu mais queria era uma casa de verdade e uma vida
melhor para Grace Kelly, que só tem uma sandália, e para meu filho que vai
nascer.
Mas não consigo emprego e não recebo Bolsa Família, porque não tenho
documentos — lamenta Fernanda.
Pior ainda é a situação de Maria Isabel Rocha, que nem renda
tem. Com 28 anos, ela vive de favor na casa de Elisabeth.
Teve que deixar sua
filha, Maria Clara, de 2 anos, com a ex-sogra. E viu uma enchente interditar
sua antiga casa, levando junto seus documentos e muito do que restava de sua
cidadania.
— Só consegui tirar uma nova certidão de nascimento há pouco
tempo. Custou mais de R$ 100. Não tenho condições de fazer os outros documentos.
Quando tinha um lixão aqui perto, recolhia alumínio e vendia. Agora, não tenho
mais nada.
Chega a faltar até o arroz e feijão. Vivemos porque Deus quer que a
gente viva — diz Maria Isabel.
Palavra de
especialista
Na casa de Roberto e Nilceia da Silva, em Engenheiro
Pedreira, Japeri, moram 10 pessoas. Eles recebem apenas R$ 620 de Bolsa Família
- Márcia Foletto / Agência O Globo
Os pesquisadores Valéria Pero, professora do Instituto de
Economia da UFRJ, Samuel Franco e Adriana Fontes, do Instituto de Estudos do
Trabalho e Sociedade (Iets), analisaram o quadro da pobreza e da desigualdade
no Rio de Janeiro. E apontam possíveis causas para o estado ainda ter mais de
meio milhão de pessoas miseráveis.
O GLOBO: Que fatores contribuem para o Rio ter mais pessoas
extremamente pobres do que seus vizinhos?
ESPECIALISTAS: A diminuição da pobreza, medida a partir da
renda per capita, depende de dois fatores: crescimento econômico e distribuição
de renda mais favorável aos pobres.
Considerando a análise da evolução da renda
per capita na última década (2003-2013), o Rio teve a menor taxa de crescimento
dos estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste.
E a diminuição da desigualdade de
renda per capita foi a mais lenta entre esses estados.
A questão está na
velocidade dos avanços. O Rio aumenta renda e reduz desigualdade, porém em
ritmo mais lento do que seus vizinhos.
Ao longo do tempo, se distancia desses e
se aproxima dos estados do Nordeste, que tiveram também crescimento de renda e
diminuição da desigualdade mais forte que no Rio.
O GLOBO: O que pode explicar a persistência da desigualdade
no Rio?
ESPECIALISTAS: Duas possíveis explicações residem nas enormes
e persistentes diferenças salariais entre trabalhadores de baixa e de alta
qualificação, e entre trabalhadores de micro e pequenas empresas em relação a
médias e grandes empresas.
O GLOBO: O que pode ser feito para mudar esse quadro?
ESPECIALISTAS: O mercado de trabalho fluminense parece ter
dificuldades de absorver a população mais pobre, que acaba buscando
alternativas na geração de renda através de atividades autônomas.
Para mudar
esse quadro, é preciso criar uma dinâmica de desenvolvimento que absorva mais
trabalhadores pobres e que esses se insiram de forma mais qualificada em posto
de trabalho de maior qualidade.
No caso dos pequenos negócios, o seu desenvolvimento
passa também por acesso a uma série de serviços e capacitação em gestão.
As linhas de pobreza
A casa da faxineira Arlete Silva, em Laranjal, Japeri, tem
apenas dois cômodos, com o banheiro do lado de fora da construção - Márcia Foletto
/ Agência O Globo
Governos e instituições usam metodologias diferentes para
definir a extrema pobreza.
Uma das mais comuns tem como base o valor necessário
para adquirir uma cesta de alimentos com a quantidade mínima de calorias para a
sobrevivência de uma pessoa, como a usada pelo Ipea, instituto que é referência
nesse tipo de pesquisa.
Com uma série histórica desde 1976, o Ipea traça linhas
regionais de extrema pobreza, levando em conta os diferentes custos de vida.
Esses valores variam por estado e também por regiões. No Rio, em 2013 (dados
mais recentes disponíveis), foi fixado em R$ 140,70 por pessoa na Região
Metropolitana; R$ 119,38 em áreas urbanas das demais regiões e R$ 107,45 nas
zonas rurais.
O recorte é diferente do usado pelo Bolsa Família. O
Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) utiliza o critério das Nações Unidas
para as metas do Milênio, que considera extremamente pobres as famílias com
renda per capita de até US$ 1,25 ao dia. Por esse raciocínio, em vez de 3,77%,
o Rio teria 1,74% de sua população na extrema pobreza em 2013.
Com base nos dados do MDS, o Programa Rio Sem Miséria, do
estado, estima em 283 mil o número de miseráveis no Rio.
Já o Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets), que
também calculou os indigentes com base na Pnad 2013, contou 584.452 miseráveis
no estado, acima do número do Ipea.
FONTE: O GLOBO POR MARIA ELISA ALVES / RAFAEL GALDO 31/05/2015 7:12 / ATUALIZADO 01/06/2015 11:39.
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