Para Boris Fausto, situação de Dilma é pior do que a de Collor, sobretudo por 'problemas no Orçamento e no financiamento da sua campanha'.
Boris Fausto, um dos principais historiadores do Brasil, considera
difícil relacionar a crise política que enfrenta a presidente Dilma
Rousseff com a que derrubou João Goulart, em 1964, conforme fez neste
domingo (5) o senador tucano José Serra.
Na avaliação do historiador, que declarou voto em Aécio Neves, há mais
razões técnicas hoje para o impeachment de Dilma do que havia no caso de
Collor, sobretudo por "problemas no Orçamento [as chamadas 'pedaladas
fiscais'] e no financiamento da sua campanha".
"A comparação com o Collor é interessante porque, por muito menos, o
Collor sofreu impeachment", afirmou, em entrevista à BBC Brasil.
Questionado sobre a ausência de acusações diretas de corrupção contra a
presidente, Fausto disse que Dilma "fez um esforço no sentido de
controlar os piores aspectos da corrupção e dar um rumo para a
Petrobras".
"Mas o problema é que ela está metida em toda uma
instituição política da qual faz parte, não obstante suas supostas e
prováveis intenções", completou.
O historiador disse considerar que as acusações de corrupção que
contribuíram para a queda de Getúlio Vargas, com seu suicídio em 1954,
eram "um laguinho" diante das denúncias envolvendo a Petrobras.
A menção é uma referência à expressão "mar de lama", popularizada na
época da crise de Getúlio. Confira abaixo os principais trechos da
entrevista:
BBC Brasil - Após indicações de uma possível ruptura entre PT e PMDB e
de declarações de líderes do PSDB de que estariam prontos para assumir o
país, Dilma partiu para o ataque e disse que não vai cair. Esse tipo de
afirmação tende a ter algum resultado político?
Boris Fausto -
Algum resultado certamente tem. Ela é presidente da República. Para
usar uma linguagem do boxe, ela tentou sair das cordas. Presumo que
teria tido uma boa acolhida no PT. Em outros círculos, não acredito.
'Por muito menos Collor sofreu impeachment', diz historiador
Para Boris Fausto, situação de Dilma é pior do que a de Collor, sobretudo por 'problemas no Orçamento e no financiamento da sua campanha'.
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Boris Fausto, um dos principais historiadores do Brasil, considera
difícil relacionar a crise política que enfrenta a presidente Dilma
Rousseff com a que derrubou João Goulart, em 1964, conforme fez neste
domingo (5) o senador tuca
no José Serra.
Ele não vê problemas, porém, em fazer comparações com a queda, em 1992,
do primeiro presidente eleito após a redemocratização do país, Fernando
Collor.
Na avaliação do historiador, que declarou voto em Aécio Neves, há mais
razões técnicas hoje para o impeachment de Dilma do que havia no caso de
Collor, sobretudo por "problemas no Orçamento [as chamadas 'pedaladas
fiscais'] e no financiamento da sua campanha".
"A comparação com o Collor é interessante porque, por muito menos, o
Collor sofreu impeachment", afirmou, em entrevista à BBC Brasil.
Questionado sobre a ausência de acusações diretas de corrupção contra a
presidente, Fausto disse que Dilma "fez um esforço no sentido de
controlar os piores aspectos da corrupção e dar um rumo para a
Petrobras".
"Mas o problema é que ela está metida em toda uma
instituição política da qual faz parte, não obstante suas supostas e
prováveis intenções", completou.
O historiador disse considerar que as acusações de corrupção que
contribuíram para a queda de Getúlio Vargas, com seu suicídio em 1954,
eram "um laguinho" diante das denúncias envolvendo a Petrobras.
A menção é uma referência à expressão "mar de lama", popularizada na
época da crise de Getúlio. Confira abaixo os principais trechos da
entrevista:
BBC Brasil - Após indicações de uma possível ruptura entre PT e PMDB e
de declarações de líderes do PSDB de que estariam prontos para assumir o
país, Dilma partiu para o ataque e disse que não vai cair. Esse tipo de
afirmação tende a ter algum resultado político?
Boris Fausto -
Algum resultado certamente tem. Ela é presidente da República. Para
usar uma linguagem do boxe, ela tentou sair das cordas. Presumo que
teria tido uma boa acolhida no PT. Em outros círculos, não acredito.
BBC Brasil - Pareceu um bom passo dentro da disputa política?
Fausto -
Não acho que seja um bom passo. Acho que ela teria que falar mais,
porque a presença dela em momentos de crise seria muito importante e ela
aparece muito pouco. Não gosto do conteúdo. Essa coisa de "eu não tenho
medo, venham para a luta" parece um desafio de ginasianos, e não a
palavra de uma presidente.
E essa exploração de uma outra época histórica, do fato de que ela
tenha sido torturada, presa política, aliás, só a enaltece, mas essa
exploração, transportada para o dia de hoje, não faz sentido.
BBC Brasil - O senador José Serra disse que o governo Dilma "é o mais
fraco" que já presenciou. "O de Jango (João Goulart, deposto em 1964)
era de uma solidez granítica se comparado com o de Dilma", afirmou na
ocasião. O senhor concorda?
Fausto -
Não concordo em parte. É difícil medir solidez granítica de governo.
Acho que o governo Jango, sobretudo na última fase, teve um
comportamento muito errático, se enfraqueceu muito e foi derrubado por
um golpe. As épocas são muito diferentes, as razões (da fraqueza dos
governos) são muito diferentes, as forças sociais em jogo são outras.
Não vejo paralelismo.
BBC Brasil - A imprensa teve um papel importante na queda tanto de
Jango como de Getúlio Vargas. O PT costuma acusar a imprensa de
perseguir o partido e seu governo. Como o senhor vê a atuação da mídia
hoje?
Fausto -
A imprensa sempre teve um papel importante no Brasil. No passado
tivemos algo que hoje não temos: órgãos da imprensa com diferentes
posições. Por exemplo, o caso do (jornal) em contraste com a (jornal que
apoiava Getúlio). Hoje não temos isso.
Agora, estou seguro de que essa teoria conspiratória sobre a imprensa
manipulando a situação é falsa. A mídia em geral tem tido um papel muito
importante no esclarecimento de fatos. Em vez de censurar a mídia é
melhor censurar o comportamento das pessoas sobre quem a mídia fala.
BBC Brasil - No caso do Getúlio houve também acusações de corrupção. Essa seria uma semelhança entre os dois casos?
Fausto -
Semelhança muito genérica existe porque o tema da corrupção apareceu
nos dois casos, só que o grau de corrupção nos dias de hoje é
infinitamente maior do que na época de Getúlio.
E, afinal de contas, aquilo que ele próprio chamou de "mar de lama" era
um laguinho comparado à situação de hoje. O que significa que a
corrupção é um elemento muito mais importante hoje do que no quadro da
queda de Getúlio, o que não quer dizer que o tema da corrupção não tenha
sido usado para derrubá-lo.
BBC Brasil - E hoje o senhor também vê alguma "luta de classes" como
havia antes? Isso porque o governo também costuma classificar seus
críticos como "elite que está contra as reformas do país e preocupada
com seus próprios interesses".
Fausto -
Pergunta difícil essa. Esse panorama no Brasil é muito complexo. Claro
que há interesse se manifestando interesses das elites. Mas há uma coisa
complicada se pensarmos o seguinte: o PT, que expressou a vontade de
luta dos trabalhadores urbanos, se transformou num partido cuja
principal liderança se uniu às empreiteiras, a ponto de a direção do
partido fazer uma declaração em defesa das empreiteiras. Então, tudo
isso embrulha muito o cenário da luta política brasileira. É difícil
falar que o Partido dos Trabalhadores seja hoje o partido dos
trabalhadores.
BBC Brasil - Hoje Dilma tem menos apoio popular que Jango e Getúlio
tinham antes de suas quedas. Isso aumenta as chances de ela não terminar
o mandato?
Fausto -
A comparação histórica não aumenta. O fato de ter um prestígio tão
baixo aumenta muito as chances de chegarmos a uma situação de
impeachment. A falta de apoio popular, mais a queda enorme do prestígio
da Dilma, que no começo do primeiro mandato tinha em torno de 60%, 65%
de aprovação, isso, sim, concorre muito para desestabilizar seu governo.
BBC Brasil - José Sarney foi um presidente muito impopular e Fernando
Henrique Cardoso também viveu momentos de baixa aprovação, mas ambos não
caíram. Que semelhanças e diferenças há entre esses dois casos e o
atual?
Fausto -
É uma situação diferente. O Sarney tinha problema de legitimidade foi
um nome que esteve integrado na Arena (o partido de sustentação da
ditadura militar) e chegou ao poder por conta da morte de Tancredo
(Neves, civil eleito presidente indiretamente pelo Congresso). E o
Brasil atravessou um período muito difícil do ponto de vista econômico.
As razões de queda da popularidade são compreensíveis, mas o quadro
político não foi instável como hoje.
BBC Brasil - E no caso de Fernando Henrique? Ele também viveu momentos de baixa aprovação, houve o "Fora FHC".
Fausto -
O FHC viveu momentos de desaprovação, principalmente no segundo
mandato, quando enfrentou uma situação econômica também adversa, o
desemprego subiu muito. Na verdade, com ele acontece uma coisa curiosa, e
eu vou repetir uma frase dele porque eu acho boa. Ele, por muito tempo,
perdeu a popularidade, mas não perdeu a credibilidade.
BBC Brasil - A democracia brasileira, embora ainda muito nova, superou
bem o impeachment de Collor. A leitura predominante hoje é de que a
queda do presidente foi justa e correta. O governo Dilma acusa os que
propõem o impeachment de golpistas. Um impeachment hoje tem fundamento
constitucional ou seria um golpe?
Fausto -
O impeachment é uma coisa prevista na nossa legislação, não é um golpe
de Estado. Mas é preciso considerar que o impeachment é sobretudo um
instrumento político. O que significa que exista uma forte tendência a
acreditar que o governo não tem condições de continuar. E, mais do que
isso, é preciso indicar as razões porque isso acontece. Agora, a Dilma
está cercada de razões dessa natureza – problemas no Orçamento [do
governo], no financiamento do partido, da campanha dela.
Então, é preciso não se antecipar porque estamos vivendo aí numa
tempestade, mas que existem razões para um impeachment, razões técnicas,
eu acho difícil contestar. A comparação com o Collor é interessante
porque por muito, muito menos, o Collor sofreu o impeachment.
BBC Brasil - É que no caso do Collor o acusam de ter sido corrupto em
causa própria. E a presidente sustenta que a biografia dela é limpa, que
ela é honesta. Não seriam então duas coisas diferentes?
Fausto -
Eu já disse que Dilma fez um esforço no sentido de controlar os piores
aspectos da corrupção, dar um rumo para a Petrobras. Mas o problema é
que ela está metida em toda uma instituição política da qual ela faz
parte, não obstante as suas supostas e prováveis intenções.
BBC Brasil - Volta a discussão hoje no país a adoção do
parlamentarismo, defendida principalmente pelo presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, e também por José Serra. O sistema foi adotado no governo
Jango, como forma de retirar força do presidente. O que acha da
discussão hoje?
Fausto -
É preciso ver em que condições se adotará. Tenho muito receio da adoção
do parlamentarismo, não do ponto de vista abstrato da qualidade de um
sistema político dessa natureza - o parlamentarismo tem muitas virtudes.
Mas fico imaginando se, com uma instituição como o Congresso Nacional, a
presença no país de 32 partidos, a gente tem um arcabouço
constitucional que possa sustentar um verdadeiro parlamentarismo.
BBC Brasil - E quando o senhor fala dos 32 partidos se refere a possíveis dificuldades na construção de alianças?
Fausto -
Você vê as dificuldades que temos hoje num sistema presidencialista em
que o Congresso ganha muita relevância - toda a falta de coerência, a
criação de partidos que são simples balcões em busca de interesses. Tudo
isso torna muito arriscada a implantação do parlamentarismo.
BBC Brasil - Qual sua opinião sobre Eduardo Cunha, uma figura polêmica, que despontou com muita força?
Fausto -
Eu não o conheço suficientemente, prefiro não opinar. Vou dizer só uma
coisa: o Eduardo Cunha conhece o regimento da Câmara muito bem. Ele sabe
usar, e aí, veja você, mais um dado para que a gente fique com uma
pulga atrás da orelha sobre o parlamentarismo.
fonte: terra
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