Cidades-gêmeas
Setembrino é morador de Barracão, mas as cinco filhas dele residem na Argetnina
Caminhar livremente por três cidades, três estados e dois países em apenas uma rua é o que possibilita o Extremo-Oeste de Santa Catarina.
É lá onde fica Dionísio Cerqueira, a 700 quilômetros de Florianópolis, cidade que faz divisa com Barracão, no Paraná, e fronteira com Bernardo de Irigoyen, na Argentina.
O município catarinense de 15 mil habitantes tem uma rotina dividida com os paranaenses e argentinos.
Ao
circular pela região, somente quem mora por lá sabe onde realmente
está.
A dica para os visitantes está nos postes de energia elétrica. Os
redondos, vermelhos e verdes são catarinenses, enquanto os quadrados,
verdes, azuis e brancos sinalizam a cidade paranaense.
Na terça-feira, no Diário Oficial da União,
o Governo Federal reconheceu oficialmente um título que os moradores
locais já usam há muito tempo.
A publicação declara que Dionísio
Cerqueira e Barracão estão na lista dos 33 municípios brasileiros
considerados cidades-gêmeas.
O ato do Ministério da Integração Nacional
leva em consideração o crescimento da demanda por políticas específicas
para as regiões de fronteira e a importância delas para a integração
sul-americana, mas não aponta benefícios claros a curto prazo.
Na foto acima, à direita fica a Argentina, à esquerda o Paraná e à frente, no prédio, Santa Catarina
Cruzar do Brasil para a Argentina a pé não precisa de autorização ou fiscalização, basta atravessar a rua.
No lado argentino, as lojas com produtos alimentícios são as mais
procuradas. A travessia com carro, porém, precisa ser feita pela
aduana.
E é por isso que a todo instante turistas estacionam o carro do
lado brasileiro e caminham até a Argentina para comprar vinho, doce de
leite, azeite de oliva e outras coisas.
Assim como são comuns as histórias de pessoas que moram em uma cidade e trabalham em outra.
O
aposentado Setembrino Nunes de Proença, 67 anos, é gaúcho, assim como
grande parte dos moradores da região.
Mas reside em Barracão há 40 anos.
Suas cinco filhas se casaram com argentinos e todas moram no país
vizinho. Mesmo assim, Proença diz que não fala espanhol, mas elogia o
lugar onde vive. Apesar de ser uma fronteira, região normalmente
conhecida por insegurança, ele diz que nas cidades-gêmeas a situação é
diferente:
— Um lado presta serviço para o outro. É um lugar bom de viver e seguro.
Outro ponto de travessia entre os dois países é o Parque Turístico Ambiental de Integração,
construído em parceria entre as três cidades da região. Desde 2009, os
municípios, incluindo também Bom Jesus do Sul (PR), distante oito
quilômetros de Barracão, criaram o Consórcio Intermunicipal da
Fronteira, que desenvolve ações e constrói obras na região.
O
responsável por fiscalizar o lado brasileiro do parque é um morador de
Dionísio Cerqueira.
Com um chapéu de palha para escapar do sol, Claudi
Valentim dos Passos é responsável por manter a área limpa e organizada.
Sob os olhos dele, os visitantes passam de um lado ao outro carregando
sacolas.
—
No verão movimenta bastante. Agora tem mais argentino vindo pro Brasil
também, porque aqui algumas coisas são mais baratas para eles — contou o
funcionário da prefeitura.
Claudi é o fiscal do parque de integração, que divide Dionísio Cerqueira de Bernardo de Irigoyen.
Crise brasileira afeta comércio argentino
A
estrutura do comércio na tríplice fronteira não se compara ao que
existe nas fronteiras do Rio Grande do Sul com o Uruguai e de Foz do
Iguaçu com o Paraguai, por exemplo, mas ajuda a movimentar um milhão de
turistas por ano.
As lojas que mais atraem turistas são as de
cosméticos, bebidas e produtos alimentícios. Porém, desde o começo do
ano passado o movimento caiu consideravelmente por causa da crise
brasileira. Além disso, as medidas tomadas pelo novo governo argentino
desvalorizaram a moeda local.
O
empresário Juan Alberto Junes, que herdou o supermercado da família
criado em 1929, afirma que as vendas caíram consideravelmente:
—
Nosso público é praticamente de brasileiros. Nós acompanhamos o Brasil e
aqui um país depende do outro — explicou o comerciante.
O que são cidades-gêmeas:
A
lei publicada ontem define critérios para que uma cidade seja
considerada gêmea. Em SC, somente Dionísio Cerqueira foi classificada
dessa forma:
-
Serão considerados cidades-gêmeas os municípios cortados pela linha de
fronteira, seja essa seca ou fluvial, articulada ou não por obra de
infraestrutura, que apresentem grande potencial de integração econômica e
cultural, podendo ou não apresentar um conjunto urbana com uma
localidade do país vizinho.
-
Não serão consideradas cidades-gêmeas aquelas que apresentem,
individualmente, população inferior a 2.000 (dois mil) habitantes.
postado por cicero luis
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