Os colunistas que leem comentários dos internautas nos portais de
notícias sobre entretenimento e televisão têm a impressão de terem
envelhecido algumas décadas. O motivo é tão antigo quanto a própria TV:
as emissoras abertas versus as emissoras fechadas (ou pagas).
Não faz muito tempo que os espaços reservados a estes comentários
eram tomados por elogios calorosos às TVs pagas, na mesma proporção que
criticavam as emissoras abertas - desde a Globo até a Gazeta.
Com poucas variações, as queixas dos telespectadores seguiam roteiros
parecidos: a televisão aberta era (ou ainda é) sensacionalista,
repetitiva, atende somente aos interesses dos patrocinadores, não
percebe que envelheceu, empurrando goela abaixo do público os mesmos
rostos e nomes. A televisão paga sim, oferecia (ou oferece?) programas
de qualidade, um vasto cardápio de filmes, seriados, documentários,
atrações musicais.
Os mais extremados declaravam sequer saber o que se passava nas
emissoras abertas, quase uma luta de classes midiáticas, que se acirrou
quando a classe C teve acesso ao serviço. (Alguém lembra da histeria
causada pela invasão dos programas dublados?). E assim a TV fechada no
Brasil vivia seu auge.
Com a entrada da internet e dos canais por demanda neste ringue, os
comentários se inverteram de dois anos para cá. De mocinha, a TV paga se
tornou vilã, cheia de vícios parecidos aos da sua gêmea má. Dá-lhe
assinantes reclamando do excesso de reprises e comerciais, atrações
exibidas apenas para preencher a grade, legendas sem sincronia ou que
desaparecem, e para piorar, os serviços das operadoras a cabo começaram a
cair na precariedade (ofertas de pacotes que prometem algo e vendem
outro, demora no atendimento, e a lista só cresce).
Quem já se propôs a zapear a TV por assinatura em um fim de semana
percebeu que as reclamações têm fundamento. Por que o History Channel,
por exemplo, precisa exibir horas seguidas de “Trato Feito”? Os canais
pertencentes à Globosat repetem, sem constrangimento, reprises e
convidados da Globo. Os comerciais da Polishop, exibidos
desenfreadamente em vários canais, já se tornaram piada nas redes
sociais.
A lei que obriga emissoras fechadas a exibirem uma porcentagem de
conteúdo nacional escancarou a preguiça de determinados programadores.
Enquanto alguns se esforçam para produzirem conteúdo original (como o
Canal Brasil), muitos passam filmes brasileiros de qualidade duvidosa,
em diversas reprises.
Mesmo nocauteada, a TV paga no Brasil não parece reagir. Pesquisas
mostram que o seu número de assinantes está caindo, e os serviços como
Netflix, por oferecerem conteúdo sem comerciais e sem uma grade fechada,
tal qual uma videolocadora virtual, são o futuro.
Se continuarem a ver o tempo passar e não apostarem na agilidade do
novo telespectador (as emissoras fechadas americanas, por exemplo,
acompanham o intervalo de exibição das atrações na internet), a
televisão por assinatura brasileira se tornará passado como as
lutas-livres nos sábados à tarde.
Ariane Fabreti é colunista do NaTelinha. Formada em Publicidade e
em Letras, adora TV desde que se conhece por gente. Escreve sobre o
assunto há sete anos.
postado por cicero luis
fonte: Estação NT
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