Comissão técnica exalta desde preparação de treinos até trabalho estrutural na base, trata goleada como fato isolado e Parreira lê até carta de agradecimento ao treinador
Foram
apenas seis minutos ruins em um ano e meio. Seis minutos em que a
Alemanha fez quatro gols e construiu o massacre de 7 a 1 sobre o Brasil
na semifinal da Copa do Mundo.
Na visão da comissão técnica da Seleção,
todo o resto foi perfeito: o título da Copa das Confederações, o
desempenho nos amistosos, o comportamento dos jogadores, o número de
treinos, o trabalho de desenvolvimento da CBF nas categorias de base e a
classificação final na Copa do Mundo em que, segundo Felipão, “os
adversários estavam melhores do que eles imaginavam”.
Felipão na coletiva da comissão técnico do Brasil na Granja Comary.
Luiz
Felipe Scolari deu entrevista coletiva nesta quarta-feira, na Granja
Comary.
Só ele e o coordenador Carlos Alberto Parreira falaram, além de
pitacos do auxiliar Murtosa e da presença na bancada do preparador de
goleiros Carlos Pracidelli, do preparador físico Paulo Paixão, do médico
José Luiz Runco e do chefe de delegação Vilson Ribeiro de Andrade.
Questionado
sobre as declarações do presidente da Federação Catarinense de Futebol e
vice da região Sul da CBF, Delfim de Pádua Peixoto, que cobrou a sua saída do cargo de técnico da Seleção e o chamou de ultrapassado e obsoleto, Felipão respondeu em tom de ironia:
-
O único título que o futebol de Santa Catarina tem, eu era o técnico
(nota da redação: a Copa do Brasil de 1991 com o Criciúma).
Então o
Delfim tem que me agradecer de joelhos. Nunca ganharam nada. E o que
ganharam foi graças a mim.
Eu não vou ficar respondendo a presidente de
federação nenhuma.
Entre muitas explicações sobre o
vexame diante da Alemanha, resumidamente, admitiram que o resultado foi
catastrófico, mas defenderam com unhas e dentes o trabalho à frente da
Seleção, com destaque para “dona Lúcia”, torcedora que teria enviado um
e-mail de agradecimento a Felipão, lido por Parreira nesta tarde (saiba mais).
Munido
de papéis com diversos dados que deixou à disposição, como número de
treinos e análises do fisiologista, Felipão repetiu por diversas vezes
que a derrota por 7 a 1 foi horrível, mas que a vida dele e nem dos
jogadores vão acabar.
-
Depois da Copa das Confederações, tivemos uma derrota e nove vitórias.
Tínhamos uma equipe preparada, um sistema de jogo. Foi a primeira vez,
desde 2002, que chegamos à semifinal.
Foi uma derrota ruim, seis minutos
de pane geral. Se eu pudesse te responder o que aconteceu naqueles seis
minutos, eu responderia, mas eu não sei - disse Felipão, frequentemente
interrompido por uma defesa de Parreira.
Numa
delas, o coordenador técnico leu um e-mail que, segundo ele, foi
enviado por dona Lúcia, uma torcedora que já faz sucesso nas redes
sociais com um personagem “fake”.
Ela agradecia Felipão pela humildade e
pelos momentos de felicidade proporcionados à nação, e citava a
crueldade do ser humano por conta da pergunta de um jornalista sobre
dívidas do técnico após a goleada (veja o vídeo ao lado).
Felipão
voltou a reclamar de tratamento diferente a erros da arbitragem a favor
do Brasil e de outros países, se recusou a comentar seu futuro antes do
jogo de sábado, em que irá brigar pelo terceiro lugar, elogiou o
trabalho estrutural da CBF para melhorar o futebol brasileiro e disse
que foi surpreendido pelo nível dos adversários da Copa do Mundo.
- As equipes estavam melhores do que imaginávamos, jogando um futebol de boa qualidade.
O
coordenador técnico Carlos Alberto Parreira insistiu em dizer que não
mudaria a postura adotada antes do Mundial, quando falou em amplo
favoritismo da Seleção ao título na competição em casa.
- A
visão é a mesma de anteriormente. Positiva, otimista, de quem está
jogando em casa.
Nunca vi um líder, um comandante dirigir seus
comandados e dizer "Vamos para a guerra e vamos perdê-la".
Era obrigação
nossa ser positivos, acreditar no potencial dos nossos jogadores.
O
trabalho foi muito bem conduzido em um ano e meio. A Alemanha está há
oito ou 10 anos trabalhando com esse time. Sabemos que foi doída a
derrota, mas não houve reversão de expectativa.
Se me perguntassem de
novo qual era a expectativa para a Copa, respondo que era de ganhar.
Ficamos tristes, como todos os jogadores. Todos queriam ser campeões em
casa. Mas agora é vida que segue, e é olhar para frente.
Carlos Alberto Parreira também tentou dar explicações durante a entrevista .
ESTATÍSTICAS
-
Temos dados estatísticos que provam que depois da Copa das
Confederações tivemos apenas uma derrota, montamos uma equipe preparada,
com sistema de jogo... Tínhamos que desenvolver a confiança nos nossos
jogadores.
E fizemos isso através dos resultados. Não esperávamos essa
derrota catastrófica em relação ao número de gols.
Só não podemos
esquecer que depois de 2002 essa é a primeira vez que a Seleção chegou à
semifinal.
Agora passa a ser importante o outro sonho que temos, que é
terminar em terceiro lugar na Copa do Mundo.
FUTURO
-
A CBF nos deu todas as condições de trabalho, as melhores que
imaginávamos.
Nós e os atletas temos compromisso com a direção até o
final do Mundial.
E nosso final de Copa do Mundo é o jogo de sábado. Não
vamos discutir esse assunto em hipótese alguma antes do jogo.
Depois
disso, provavelmente, nós vamos conversar com a direção da CBF, dar o
relatório do que foi feito, de como foi feito, série de detalhes. Aí a
presidência vai examinar o que aconteceu de bom e errado.
VEXAME
-
Nós chegamos aqui de madrugada, o pessoal comeu alguma coisa, foi
dormir e só nos vimos agora ao meio-dia.
Mas não falamos nada. Falar em
cima do jogo de ontem, com as imagens mentais que temos, não vale a
pena.
Vale a pena temos a colocação exata das coisas. Se eu pudesse te
responder com consciência o que aconteceu naqueles seis minutos, eu
responderia.
Mas também não sei (...) Não tenho como explicar, não vou
justificar e também não acho que os meus jogadores tenham dificuldade de
assimilar.
Perdemos como nunca tínhamos perdido. É histórico, sim, mas
não podemos terminar a vida dos jogadores.
Agora eles continuam o
trabalho pelo Brasil, voltando a ser os melhores do mundo e, pelo menos
70%, no mínimo, vai estar em 2018 com uma bagagem diferente.
BERNARD
-
São 28 jogos que treinei equipe, nos 28 o Bernard estava em 24, no
mínimo. Jogou em 18, 17, 16, entrou durante ou saiu jogando.
Ele sabia
perfeitamente como íamos jogar, de antemão e tudo mais. Se nós usamos a
imprensa (para enganar a Alemanha), peço desculpas, vocês não nos usam
nunca (ironicamente).
MANCHA
-
Quero dizer a vocês todos que a colocação de todos nessa mesa foi uma
solicitação geral.
Em princípio eu tinha dito que viria aqui conversar
com vocês, porque tenho dados que podem acabar com as dúvidas de vocês.
Mas todos quiseram vir porque somos uma equipe que ganha e perde junta. E
mais: entendo perfeitamente, sei o que aconteceu, sei o que é a mancha,
a vergonha, sei o que é tudo e sinto, isso nunca vai sair de mim.
Mas
se avaliarmos por números podemos ver que estamos no caminho certo.
TRABALHO DE BASE
Nós
já estamos fazendo isso, temos bons cursos, trabalho de base sendo
feito pela CBF junto aos jovens treinadores e aos treinadores das
categorias de base que deve resultar no futuro.
Muitas vezes não é
passado ao publico de forma tão explicita, mas já está sendo feito na
administração do Marin. Mas é longo o trabalho.
NÍVEL DA SELEÇÃO
Nós
não tivemos o mesmo nível, não fomos dentro do que tínhamos planejado
conseguindo atingir os resultados.
Fomos razoavelmente bem na primeira
etapa, jogo ímpar, diferente contra o Chile porque era jogo muito
disputado, guerra praticamente, depois jogamos bem contra a Colômbia,
fomos evoluindo.
Contra a Alemanha tivemos aquela dificuldade, não
estivemos no nível, mas num nível de razoável pra bom desde o início.
Não no mesmo nível, mas em condições de enfrentar e passar obstáculos.
Único senão foi esse jogo de ontem.
POUCOS TREINOS
Muito
foi cobrado e falado a respeito de treinamento, mas se forem pesquisar e
olhar os dados da Copa das Confederações, foram os mesmos, o mesmo
número de treinos.
Então, a ideia não é correta, temos dados para passar
a vocês, quando quiserem a gente passa.
Não tem nada diferente daquilo
que a gente imaginou, o diferente foi esse confronto com a Alemanha, o
número de gols.
ESTADO FÍSICO
- Posso
explicar, pelo departamento médico e físico, tudo planejado. Não tivemos
lesão nenhuma, não tivemos dificuldade nenhuma.
Quando precisamos de
120 minutos, corremos os 120 minutos, passamos por cima do adversário
nos 30 finais. Tomamos um gol de bola parada na competição, fizemos
cinco de bola retomada e seis de bola parada.
Alguma coisa é trabalhada,
prefiro dizer que foi sofrível, mas chegamos entre os quatro melhores
do mundo.
TERCEIRO LUGAR
-
À medida que não jogarmos bem, não ganharmos, tivermos outra decepção
como a que tivemos ontem, claro que vai piorar.
Embora mesmo com uma
vitória poderá mudar muito pouco a decepção de ontem, isso não adianta.
A
gente sabe disso, mas tem que trabalhar com objetivos. Era a ideia, o
sonho de chegarmos à final, não conseguimos, jogamos por um sonho bem
menor.
ALEMANHA
-
Veja bem, estou dizendo que Alemanha tem oito anos de preparação, nós
temos um ano e meio.
Experiência em determinados momentos é importante.
Queríamos chegar a uma final, nisso tomamos segundo gol, sai a bola,
perdemos, tomamos o terceiro. Então é isso que aconteceu, não mudaria
nada.
São bons jogadores, atingiram objetivos, ganharam Copa das
Confederações, vieram aqui e foram à semifinal, não dá pra denegrir.
CRÍTICAS DO PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO CATARINENSE E APOIO DE MARIN
-
O único título que o futebol de Santa Catarina tem, eu era o técnico
(nota da redação: a Copa do Brasil de 1991 com o Criciúma). Então o
Delfim tem que me agradecer de joelhos. Nunca ganharam nada.
E o que
ganharam foi graças a mim. Eu não vou ficar respondendo a presidente de
federação nenhuma.
Antes de terminar jogo de ontem, quando terminou,
passados 10 minutos, 15, menos, lá estava o presidente Marin. Pedindo
pra falar com os jogadores, para se posicionar e tudo mais, recebemos
visita do Cafu, que foi ao vestiário, abraçou, conversou com todos os
jogadores. Marin comunicou a confiança que continua tendo nesse grupo.
Em todos que faziam parte do grupo especificamente. Não precisamos que
ele esteja presente aqui, temos o Vilson como representante, temos
telefone, comunicação a medida que precisarmos de alguma coisa, não é
essa dificuldade que aconteceu. Ele está sempre presente.
DERROTA ESTIMULA A FICAR?
-
Derrota daquele jeito ali não estimula nada, tem que tirar da cabeça o
que é impossível e buscar alguma fonte alternativa, nossa vida não é
feita só de derrotas.
Essa foi a pior de todas, mas também é feita de
muitas vitórias. Vida é legal e vai continuar, ninguém vai morrer por
causa disso. Buscar algumas situações para corrigir e enfrentar esse
tsunami que aconteceu ontem.
RIVAL NO SÁBADO
-
Se for Argentina é um clássico muito importante, muita rivalidade,
características diferentes de jogo da Holanda.
Bem diferentes. Coloco em
campo a equipe que perdeu ontem ou faço uma ou outra modificação para
ideia melhor no futuro sobre determinado jogador? Vamos estudar em
grupo, não tomo decisão sozinho, embora responsabilidade seja minha.
Sempre pergunto, questiono por que, tenho dados espetaculares do
fisiologista sobre o trabalho, vejo que algumas pessoas dão opinião,
trabalham na televisão, no jornal e querem saber mais do que o
fisiologista.
FATOR CASA
- Penso que jogar em
casa, como comportamento do torcedor, que tiveram, foi para o bem.
Foram fantásticos, mesmo ontem quando estávamos tomando de 5 a 0, ainda
foi espetacular.
Sentimento de raiva e tudo quando tomamos o sexto gol,
aí sim, e acho que estão totalmente certos, não tem nada de errado
nisso. Mesmo quando voltamos e no dia a dia, notas que recebemos,
cartas, e-mails, telegramas são de muito apoio.
Não foi ruim jogar no
Brasil, foi ótimo, maravilhoso, ainda assim mostramos muito mais ao
mundo do nosso país, das coisas que são nossas, para que a gente receba
no futuro o que mais ou menos não é correto que imaginavam lá fora.
MIX MODA
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