Tapioca
A tapioca, também conhecida como beiju, é o nome de uma iguaria tipicamente brasileira, de origem indígena e descoberta em Pernambuco, feita com a fécula extraída da mandioca, também conhecida como goma da tapioca, tapioca, goma seca, polvilho e polvilho doce.
Esta, ao ser espalhada em uma chapa ou frigideira aquecida, coagula-se e vira um tipo de panqueca ou crepe seco.
O recheio varia, mas o mais tradicional é feito com coco ou queijo coalho. É um quitute muito comum no Nordeste e Norte do Brasil.1
Há também variedades conhecidas como Beiju de Lenço, Beiju de Massa e
outras, feitas em fornos das casas de farinha das comunidades rurais em
determinadas épocas do ano; assim como outras variações.
O nome tapioca é derivado da palavra tipi'óka «coágulo», o nome para este amido em Tupi; e pode referir-se tanto ao produto obtido da fécula quanto ao prato em si feito a partir dele.
Etimologia
História
A mandioca, produzida sob o sistema da agricultura de subsistência,
era a base da alimentação do Brasil até a invasão e colonização do
território pelos portugueses.
Pouco após os primeiros anos do descobrimento, os colonizadores portugueses na capitania hereditária de Pernambuco descobriram que a tapioca servia como bom substituto para o pão. Na cidade de Olinda
se consumia intensamente o beiju, a farinha e a tapioca (goma)
extraídos da mandioca, desde o século XVI com a criação portuguesa da
Casa de Farinha em Itamaracá (Pernambuco).
A tapioca logo se espalhou pelos demais povos indígenas, como os cariris no Ceará e os jês,
na Amazônia oriental. Ainda, se transformou posteriormente na base da
alimentação dos escravos no Brasil.
Tudo isso serviu para transformar a
tapioca, hoje, num dos mais tradicionais símbolos da culinária por quase
todo o Nordeste.
Os indígenas brasileiros faziam vários tipos de beiju: o beiju
simples é um bolo de massa fresca, úmida, passado pela urupema (peneira
de fibras vegetais) para formar grumos, que devido ao calor ficam
ligados; o beiju-ti canga, feito de massa de mandioca mole e seca ao sol; o beijuaçu, redondo, feito como o beiju-tacinga, mas seco no forno; o caribé, que é o beijuaçu posto de molho e reduzido novamente à massa que, quando água é acrescentada, forma um tipo de mingau; o beijucica feito de massa de mandioca, em grumos bem finos; o beiju de tapioca, da massa umedecida, saindo da urupema em pequeninos grumos que quando pronto, é enrolado; o curadá, um beiju grande, feito de tapioca (goma) umedecida, em grumos maiores, levando castanha crua, depois sendo enrolado.3 4
A partir da tapioca eram feitas também algumas bebidas alcoólicas como o pajuari, o tarubá, o tapiocuí e a tiquira.
Na fabricação do tarubá, os beijus umedecidos são colocados sobre folhas de curumi (Ravenala guaianaense), e estas sobre uma camada de folhas de bananeira
estendida sobre um jirau (grade de varas). Após serem polvilhados, os
beijus são recobertos com as folhas de curumi e deixados por três dias,
quando começa a escorrer um líquido viscoso, semelhante ao melaço.
A massa é dissolvida em água, passada pela peneira e o líquido é deixado repousando. Após o descanso a bebida fica pronta.3 5
Preparo da tapioca
Numa vasilha de tamanho médio borrifa-se um pouco de água sobre a goma da tapioca e o sal,
mexe-se a mistura com a ponta dos dedos.
Lentamente, adiciona-se mais
água, esfarelando a mistura entre as mãos até que essa mistura fique sem
aderência as mãos. Essa mistura passa por um refinamento em peneira.
Em frigideira antiaderente aquecida em fogo brando, espalha-se uma porção e com as costas de uma colher cobre-se o fundo da frigideira de modo uniforme e recheia-se (tradicionalmente com coco ralado e raspas de queijo coalho,
mas possibilitando uma infinidade de novos recheios), assando de dois a
quatro minutos - ou até que a mistura fique com suas bordas soltas da
frigideira. Em seguida, dobra-se a tapioca, passando um pouco de
manteiga em ambos os lados e assando por mais um minuto.
Variações
Beiju de Folha
Malcasado e sarolho
- Aaru: beiju de massa de mandioca com tatu moqueado e moído. 6
- Beiju-açu: de massa de mandioca peneirada e torrada. 7
- Beiju-cambraia: feito com massa de tapioca, alvo, tenro e quase transparente.8
- Beiju-carimã beiju utilizado para se fazer caxiri, na festa da puberdade das moças. 8
- Beiju-cica: de massa de mandioca fresca, cortado e torrado, com aparência de um folhado.8
- Beiju-curua: de massa de mandioca, sal e castanha ralada, envolto em folha de bananeira e assado.7
- Beiju-curucaua: grande e chato, feito de tapioca granulada com castanha de caju ou castanha-do-pará ralada.7
- Beiju-curuba: semelhante ao beiju curucaua, mas a castanha de caju ou a castanha-do-pará são adicionadas em pedaços e não raladas.7
- Beiju de folha ou Beiju molhado: a fécula é preparada fria com açúcar e leite de coco, e servida em folhas de bananeira.9
- Beiju de lenço: feito artesanalmente; a mandioca ralada e molhada é colocada no centro de um pano, este é torcido em um recipiente em cujo fundo começa a depositar-se uma substância gelatinosa (a goma ou fécula), que é coada, seca ao sol, peneirada, assada com açúcar em chapa e enrolada em forma de cone. 10
- Beiju de massa: feito não com o polvilho, mas com a farinha de mandioca ainda crua (não torrada); a mandioca ralada é prensada para extração da goma e de seu sumo (a manipueira), a massa seca é então peneirada, umedecida, temperada com sal e assada em uma chapa.11 12
- Beiju-enrodilhado: beiju normal, mas que é enrolado ao invés de dobrado em dois.7
- Beiju-mambeca: um tipo de beiju mole, que não era torrado, apenas aquecido para a massa.7
- Beiju-marapatá: envolto em folhas de bananeira e assado sobre cinzas.8
- Beiju-peteca: pequeno beiju comprido de massa de mandioca puba, castanha e gordura..7
- Beiju-pixuna: usado em viagens, é grande e escuro.7
- Beiju-poqueca: assado envolto em folha de bananeira, contendo apenas massa de mandioca e sal.8
- Beiju-teica: de polvilho fresco de mandioca com farinha d’água.7
- Beiju-ticã: de massa de mandioca puba seca e socada.7
- Beiju tinin: seco ao sol até endurecer.8
- Beiju-tininga: muito durável e feito de polvilho de mandioca puba, que é pilada depois de torrada.7
- Beiju-tipioca: de polvilho peneirado e torrado; outro tipo de beiju sem nome específico era feito com massa de mandioca com carne de caça previamente torrada e pilada.8
- Malcasado ou mácasado: a fécula é misturada a coco, formando um bolinho circular mais consistente e molhado.
- Sarolho ou sarôio: a fécula é misturada a coco ralado, sal, e assada na forma de um bolinho circular mais seco e solto.
- Tapioca de forma ou de chapa: mais grossa e aquecida na chapa, na qual a tapioca é colocada dentro de uma forma de metal.
Nutrição
- valor energético de 348 kcal (17,4% do recomendado diariamente pela FDA14 numa dieta de 2.000 kcal)
- 10,9g de gordura (basicamente oriundos da manteiga), sendo:
- 6g de gordura saturada (21,2%)
- 3g de monoinsaturada (15%)
- 0,2g de poli-insaturada
- 31 mg de colesterol (10%)
- 63,6g de carboidratos (21,2%)
- 1g de fibra alimentar
- 3g açúcar
- negligenciável fibra alimentar (0%)
- 30 mg de cálcio (3%)
- 3 mg de magnésio (1,3%)
- 2 mg de sódio (0%)
- 1,6 mg de ferro (9%)15
A goma de tapioca pura é composta basicamente de carboidratos.15 16 Dos 89g de carboidratos a cada 100g de tapioca, 0,9g é fibra alimentar e 3,3g são açúcares.
Tem índice glicêmico alto17 18 19 e, por isso, pode ser perigosa para diabéticos e benéfica para a prática de atividade física intensa.20
É possível extrair maltodextrina, um polissacarídeo usado por alguns esportistas, da tapioca. Faz-se uso culinário desse carboidrato de cadeia longa para emulsificar gorduras.21
Livre de glúten, ao contrário das farinhas de trigo e de boa parte das farinhas de aveia22 , e praticamente de qualquer lipídio, a tapioca tem sido alardeada23 24 25
como bom substituto ao pão.
Em pessoas que não possuem intolerância ao
glúten não existe nenhuma boa evidência de que a tapioca cause qualquer
agravo à saúde, como a obesidade, por exemplo, se consumido com
moderação 26 .
Patrimônio imaterial e cultural
O Conselho de Preservação do Sítio Histórico de Olinda
concedeu à Tapioca o título de Patrimônio Imaterial e Cultural da
Cidade em 2006, mesmo ano em que Olinda recebeu o título de 1ª Capital
Brasileira da Cultura (Ministério da Cultura e Ministério do Turismo, governo federal).
Apesar de muito popular e integrante da culinária típica de diversos
estados nordestinos, a tapioca mais tradicional do Brasil ainda se
encontra no Alto da Sé, em Pernambuco (preservada pela Associação das
Tapioqueiras de Olinda).
Em outros estados, a tapioca sofreu algumas modificações quanto à
original (como no Ceará, onde possui formato redondo e é bastante
apreciada com café preto).
Também encontramos diversas entidades
dedicadas à cultura popular da tapioca pelo Nordeste, como o Centro das
Tapioqueiras entre os municípios de Fortaleza e Eusébio, no Ceará.
No resto do mundo, vários produtos derivados da fécula da mandioca são também chamados de tapioca.
O músico paraense Pinduca
tem uma música chama "Dona Maria", na qual a letra fala: "Dona Maria
chegou, chegou, com a mandioca/para fazer a farinha de tapioca/para
remexer, para remexer..." Os recheios darão um toque especial à tapioca e
variam de acordo com o gosto e a região onde a tapioca é consumida.
O
recheio pode ser apenas com manteiga e/ou com coco fresco ralado e/ou queijo, mas versões mais modernas podem incluir leite condensado, goiabada com queijo, banana, morango, chocolate e várias outras.
O pudim ou bolo de tapioca, não é levado ao fogo e é servido gelado,
natural ou com calda de frutas.
A farinha de tapioca é colocada num
recipiente com leite de coco, um copo de leite, açúcar a gosto e coco
ralado.
Depois que os ingredientes são bem misturados, coloca-se numa
forma e leva-se este para a geladeira.
Não faz muito tempo, a tapioca
atraiu a atenção de alguns criativos chefs da culinária brasileira.
Estes criaram versões inovadoras da tapioca. Uma destas é o uso da goma
de tapioca (em pelotas de cerca de meio centímetro de diâmetro) banhada
com molho Shoyu, produzindo uma sobremesa de cor escura que tem aparência de caviar, e é chamado "caviar de tapioca"27 .
O músico baiano Moraes Moreira compôs uma música intitulada "Tapioca de Olinda".
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